Laminite é uma doença caracterizada por um processo inflamatório agudo ou crônico das partes sensíveis do casco, que afeta várias espécies de animais domésticos, sendo os equídeos os mais susceptíveis. Em equinos é conhecida também por “aguamento”. A sua ocorrência em bovinos é baixa, sendo maior em animais confinados devido às condições alimentares a que são submetidos.
Normalmente está associada a distúrbios digestivos, um regime alimentar com altas proporções de concentrados e baixa qualidade e quantidade de fibras na dieta (ingestão excessiva de grãos, principalmente milho, aveia e trigo). Porém, esta doença pode ser desencadeada por outras causas como: fatores genéticos; idade; fatores infecciosos (éguas com retenção placentária desenvolvem quadro de laminite bastante severo, assim como animais com pneumonia, metrite, mastite ou graves infecções sistêmicas); fatores mistos (quando não existem evidências de causas mais comuns, deve-se atentar à possibilidade de desequilíbrios hormonais, animais com hipertensão digital e uso prolongado de corticosteróides e de derivados da fenilbutazona).
Como reconhecer:
Os casos agudos são acompanhados de manifestação de dor e expressão de grande ansiedade com tremor muscular, sudorese e aumento da frequência cardíaca e respiratória; os cascos afetados estão quentes e com sinal visível de inflamação acima deles. O animal apresenta relutância em se mover, permanecendo deitado a maior parte do tempo e, se forçado a andar o faz com muita dificuldade. Nos casos crônicos os cascos crescem em comprimento, a sola desloca-se para trás em conseqüência da perda da elasticidade e densidade normais, tornando-se mais quebradiços.
Como tratar:
O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível, buscando-se remover a causa ou o fator predisponente e aliviar a dor do animal. A primeira medida após a constatação da doença é colocar o animal em um local de superfície mole (piquete) com forragem e água de boa qualidade, sem oferta de concentrado. Drogas analgésicas e antiinflamatórias não hormonais serão de grande valia para alívio do problema.
A utilização de duchas de água fria, várias vezes ao dia, apresenta ação descongestionante, gerando bem-estar do animal. A aplicação da metionina para acelerar o processo de queratinização do casco também é indicada.
Nos casos crônicos o tratamento é pouco eficaz. Para animais de alto valor, a recomendação é a realização de cirurgia.
Como evitar:
Não fornecer alimentos á base de grãos em excesso e associar forragem verde na dieta. Equinos bem alimentados e gordos devem ser exercitados constantemente quando não estão trabalhando normalmente. Em relação aos animais de lida que estão há algum tempo parados é preciso muito cuidado nos primeiros dias de trabalho, não exigindo muito dos mesmos. Animais que forem ser transportados por vários dias devem ser descarregados diariamente e exercitados levemente, descansando por algumas horas.
Para bovinos que irão receber dietas altamente concentradas (ração com grãos) a melhor medida preventiva é evitar a acidose lática. Para isso, os animais devem ser adaptados para o consumo de tais dietas ou fornecer aos mesmos produtos alcalinizantes (bicarbonato ou carbonato de cálcio) na ração.
Factores predisponentes:
- Excesso de ingestão de alimento rico em glúcidos ou fibras rapidamente fermentáveis
(grão ou pasto luxuriante de gramíneas).
- Doenças que tenham componente de toxémia/septicémia: alterações gastrointestinais,
retenção placentária/metrite, pleuropneumonias.
- Apoio excessivo e prolongado nesse membro: por claudicação sem apoio do membro
contralateral (The Laminitis Trust, 2007).
- Problemas hormonais: hipotiroidismo, síndroma de Cushing, laminite relacionada com a
obesidade, ou também denominada doença de Cushing periférica.
- Tempo frio.
- Stress, vacinação, transporte.
- Induzida por drogas, principalmente corticosteróides, por vezes também desparasitantes,
(tais como o praziquantel (Knottenbelt, 2006)) ;(The Laminitis Trust, 2007) .
- Exercício em terrenos duros (Stashak, 2004).
- Ingestão de água fria (Kaneps & Turner, 2004).
- Ingestão de madeira de nogueira (ex: por ingestão de camas de aparas de nogueira)
ANATOMIA
A extremidade distal dos equinos é a sede principal da patologia descrita nesta tese – a
laminite em equinos.
Para melhor compreensão de todo o trabalho segue-se um pequeno resumo bibliográfico
sobre a anatomia desta zona anatómica.
A extremidade distal dos equinos tem por bases ósseas a primeira, segunda e terceira
falanges e o osso sesamoideo distal também conhecido por osso navicular (figura 1). Além
destas estruturas ósseas existem também as cartilagens do casco que continuam os
processos palmares da terceira falange. Os seus bordos proximais são subcutâneos e
palpáveis de cada lado da articulação interfalangiana proximal (figura 2) (Dyce, Sack & Wensing, 2004).
Associadas às estruturas ósseas existem duas importantes articulações, a articulação
interfalangiana proximal, entre a primeira e a segunda falange, e a articulação
interfalangiana distal, entre a segunda falange, a terceira falange e o osso navicular.
Associadas às estruturas ósseas existem duas importantes articulações, a articulação
interfalangiana proximal, entre a primeira e a segunda falange, e a articulação
interfalangiana distal, entre a segunda falange, a terceira falange e o osso navicular. Estas
estruturas, apesar de não se encontrarem numeradas na figura 1 são facilmente
identificadas pela coloração branca que apresentam.
Existem três tendões muito importantes associados à extremidade distal equina, dois deles
com inserção na terceira falange. O tendão do músculo extensor digital comum insere-se no
processo extensor da terceira falange, na face dorso proximal desta, e o tendão do músculo
flexor digital profundo que se insere na face palmar da terceira falange (Dyce et al., 2004).
Este último, antes da sua inserção, tem uma relação muito próxima com o osso navicular.
Existe a este nível uma bolsa sinovial denominada bolsa do navicular que tem como função
proteger o tendão do atrito e de pressões excessivas (Dyce et al., 2004).
CASCO
A extremidade distal do membro equino é protegida pelo casco, formado pela queratinização
epitelial sobre uma derme bastante modificada, contínua com a derme comum da pela na
coroa (ou banda coronária) (Dyce et al., 2004). O casco é dividido em parede, perioplo, sola
e ranilha (Dyce et al., 2004).
A parede é a parte do casco visível com o animal
em estação. É mais alta no seu segmento dorsal
(pinça) e decresce em altura nos lados (quartos),
até se flectir sobre si mesma formando os talões.
Os talões são continuados cranialmente pelas
barras (Dyce et al., 2004).
A parede cresce a partir do epitélio que reveste a
derme coronária. Consiste em túbulos córneos
embutidos em substância córnea intertubular
menos estruturada (figura 5), e desliza sobre a
derme, recobrindo a falange distal e as cartilagens
do casco (Dyce et al., 2004).
A maior parte forma o estrato médio geralmente pigmentado (Dyce et al., 2004). O estrato
interno mais profundo e não pigmentado é constituído por lâminas córneas (também
denominadas de insensíveis ou epidérmicas) que se interdigitam com as lâminas sensíveis
da derme laminar subjacente (Dyce et al., 2004)
O perioplo contribui para o estrato externo da parede. Consiste numa faixa de tecido córneo
macio de alguns milímetros de espessura próximo à coroa do casco. A faixa amplia-se na
direcção da face palmar, onde reveste os bulbos dos talões e se mistura com a base da
ranilha. O perioplo também é constituído por uma mistura de tecido córneo tubular e
intertubular que é produzido na derme perióplica, proximal à derme coronária (Dyce et al.,
2004).
A sola preenche o espaço entre a parede e a ranilha e forma a maior parte da superfície
inferior do casco (figura 6). É ligeiramente côncava, de modo que apenas a borda distal da
parede e a ranilha entrem em contacto com o solo. Apesar de mais macia do que a parede é
também constituída por uma mistura de tecido córneo tubular e intertubular (Dyce et al.,
2004).
A junção entre a sola e a parede é conhecida como a linha branca. Esta inclui parte do
estrato médio não pigmentado da parede, as extremidades distais das lâminas córneas
(estrato interno) e a córnea pigmentada (Dyce et al., 2004).
A sua base larga fecha o
espaço palmar entre os talões terminando nos bulbos dos talões (Dyce et al., 2004).
A sua superfície externa é marcada por um sulco profundo central, um sulco lateral e outro
medial. Os dois últimos sulcos são também denominados por sulcos paracuneais e separam
a ranilha das barras e da sola (Dyce et al., 2004).
A derme, interna à cápsula do casco pode ser dividida em cinco partes: derme perióplica,
coronária, laminar, derme da sola e derme da ranilha. Ambas as dermes coronária e laminar
estão associadas à parede do casco (Dyce et al., 2004).
Toda a derme, excepto a zona laminar,
contém papilas paralelas entre si e à
superfície do casco, na direcção do solo
sendo ricamente suprida por vasos e nervos
(Dyce et al., 2004).
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Uma vez que não existem nervos na cápsula
do casco os tecidos dérmico e epidérmico
justapostos são muitas vezes designados
por sensível e insensível, respectivamente
(Dyce et al., 2004).
A derme perióplica estreita e elevada
envolve o casco na zona da coroa. Contem
papilas curtas, e amplia-se no sentido caudal
onde reveste os bulbos dos talões (Dyce et
al., 2004).
Figura 7: Anatomia interna da parede do casco.
Figura alterada, original da autoria de C. C. Pollitt e
John McDougall.
A derme coronária também acompanha a coroa do casco, mas, semelhante à parede do
casco, dobra-se sobre si mesma acima dos talões (Dyce et al., 2004).
A derme laminar é composta por cerca de 600 lâminas sensíveis (dérmicas) que se
interdigitam com as lâminas insensíveis (córneas ou epidérmicas) na superfície profunda da
parede. Ambas contêm inúmeras lâminas secundárias que fixam ainda mais a parede á
derme e, por fim, à terceira falange (figuras 7 e 8) (Dyce et al., 2004).
A derme da sola está firmemente unida à face palmar da terceira falange (Dyce et al.,
2004).
A derme da ranilha ocupa o espaço abaixo do tendão do músculo flexor digital profundo e
entre as cartilagens do casco (Dyce et al., 2004).
VASCULARIZAÇÃO
Os nutrientes necessários aos
tecidos da extremidade distal são
fornecidos por artérias que derivam
da artéria circunflexa. Estas
pequenas artérias laminares fazem
um curso ascendente da zona distal
do casco para a proximal (figura 9).
As veias formam extensas redes
interligadas na derme unindo-se na
veia circunflexa que remove os
resíduos metabólicos. As veias digitais são muito musculares comparadas com as veias dos
outros tecidos (Stokes et al., 2004).
Esse é o caso de uma égua da raça Crioula que está a um tempinho conosco lá nas baias. O nome dela é Colorada.
Beijos